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sexta-feira, junho 09, 2006

Pride (In the name of Sadness)

Há muito tempo que ando para escrever este texto, mas tenho andado tão atarefado e cansado, que tenho adiado, adiado… e hoje, estou num daqueles dias onde me sinto ainda mais cansado, tanto fisicamente como mentalmente, por isso não consigo controlar as minhas emoções e decidi seguir… em frente.
Cada dia que passa parece que estou a dar um passo atrás na minha vida. Sinto-me frustrado, as minhas expectativas parecem esfumar-se e por muitos sorrisos que dê, e por muitas vezes tente disfarçar a minha tristeza, hoje é um daqueles dias em que não me consigo controlar. E olho para trás no tempo, e vejo a minha vida de estudante… Não!!! A minha vida de universitário, sempre empenhado em terminar o curso, em seguir o que sempre sonhei, a dar o máximo para ter uma vida profissional mais risonha. É incrível aquilo que o mundo nos reserva, e quando menos esperamos tudo com o que imaginamos, depressa se desvanece, tal como uma chama ao vento.
Não me consigo controlar! Hoje é um daqueles dias em que as lágrimas me caiem com a mesma naturalidade com que me rio quando me contam uma piada. E penso em tudo aquilo que abdiquei em prol de um futuro risonho. Por vezes esquecia-me dos outros e fui mal interpretado. Tive pena que por vezes não me tenham compreendido. Peço desculpa a essas pessoas. Não sou de ferro, mas reconheço os meus erros. Ainda assim, tento sempre olhar em frente… mas já não consigo ter um olhar utópico… muito antes pelo contrário.
À primeira lágrima, lembro-me dos tempos em que me divertia nas aulas com os meus colegas, alguns ainda grandes amigos com os quais, felizmente, posso contar. Depois, faço uma breve passagem pelos tempos em que trabalhava como monitor embrulhador, entrevistador, nos correios… até ao delírio, no jornal Record. Foram momentos em que me sentia feliz pois, sem grandes alaridos, as coisas iam aparecendo.
Agora, apetece-me pegar nas fitas de finalista e ler as mensagens que os meus amigos me deixaram…mas já sei que não me vou conter. Desde que as tenho, nunca as li mais de uma vez. Estava à espera daquele momento em que tudo tivesse a correr como desejava, para recordar aqueles velhos tempos. Agora tenho receio de me iludir.
Porra, mas porque é que tem que ser tudo assim? Será que ninguém abre os olhos? Mas o que querem fazer de nós, jovens qualificados, que passam metade da juventude a investir na formação, abdicando de tantas coisas boas – falo por mim, pelo menos – para depois levar com uma merda de incompetentes que não querem saber de nós para nada. Foda-se, o que querem que eu faça depois de 16 anos a estudar?
“Rapaz, limita-te a fazer o que os outros te pedem, sê competente, e verás que serás recompensado.” Lengalenga, conversa fiada, todos à espera que sejamos competentes, para darem um chuto no cu à primeira oportunidade.
Sinto-me cansado. Hoje levantei-me às 6h30 para ir trabalhar. Estive a trabalhar 8 dias seguidos. Quando finalmente tenho umas folgas merecidas, pedem-me para ir render um colega e lá tenho de ir, sem comentar.
Dezasseis anos a estudar, uma licenciatura em Ciências de Comunicação, um estágio no “Record” e, agora, trabalho como vigilante numa empresa de segurança privada. É giro, tem a sua piada: “Ah, és licenciado e tás aqui?”
Eu não me importo de estar a fazer uma coisa que não tem nada a ver com o meu nível de instrução. Eu sempre trabalhei e já fiz muita coisa. O que me faz mais confusão é a forma como lidam comigo, mesmo dentro desta empresa. Faço o meu trabalho, em todo o lado em que estive nenhum chefe teve razão de queixa e agora lembraram-se de me mudar para mais um posto. Quer dizer, já não basta, olhar-me ao espelho todos os dias e pensar para mim: “Mas que raio ando eu a fazer na Prosegur, se não gosto deste trabalho”, para depois andar a ser enrabado por todos.
Às vezes perguntam-me: “Andas triste?”, “Tás enervado?”, “Que se passa?”
“Não é nada”, digo eu para disfarçar toda a raiva que vai na minha alma e qualquer dia…espero conter-me.
Os poetas são conhecidos por terem uma escrita muito fluida e transmitirem tudo aquilo que lhes vai lá dentro, sem pudor. Pobrezinho de mim, querer ser mais que os outros.
Não!!! Tenho de seguir a linha traçada e abraçar o meu destino. Então amanhã acordo e sigo sorridente, para mais um dia de trabalho com que sempre aguardei. Durante a noite, espero sonhar com aquela coisas boas, que só passam pela nossa imaginação… e, aí pelo menos, sinto-me feliz.